Ter um gato não é o mesmo que ter um cão ou um bebé humano. Quando
alguém adopta um animal, busca os primeiros conselhos com familiares,
amigos, vizinhos e na internet. O mesmo acontece quando o gato fica
doente. Neste caso, depois de terem tentado todas as mezinhas
aconselhadas pelo vizinho, depois de experimentar os comprimidos que
sobraram do tratamento do animal de um familiar, depois de se
aconselharem com a senhora da farmácia e depois de consultarem o Dr.
Google (não necessariamente por esta ordem), visitam finalmente o
veterinário. Muitas vezes já com o animal em estado critico, quando se
torna muito mais complicado o tratamento. E se o objetivo era poupar o
dinheiro de uma consulta, só conseguiram exatamente o contrário. Já
gastaram dinheiro em medicamentos desnecessários ou até prejudiciais,
para depois terem que recorrer ao profissional de saúde, pagar os
respetivos honorários e a medicação necessária para resolver um problema
bastante mais complicado do que seria numa primeira abordagem.
O ideal
seria que se criasse uma relação de confiança médico/tutor, baseada na
honestidade, amizade, empatia e compreensão mútua. Assim o tutor
sentir-se-ia à vontade para utilizar o telefone para esclarecer uma
dúvida ou para admitir uma qualquer dificuldade económica, que o
impedisse de prestar a assistência que o animal precisasse nesse
momento.
As
vibrissas ou bigodes são fundamentais para o equilíbrio e orientação do
gato. Correspondem a um conjunto de pêlos sensoriais, localizados entre
o lábio superior e o nariz. Funcionam como uma espécie de radar, dando a
noção exacta de dimensão e distância dos objetos, facilitando a
movimentação do animal na escuridão total. A perda deste órgão sensível
provocará insegurança e frustração, uma vez que o gato terá dificuldade
em executar determinadas tarefas rotineiras, como saltar com precisão,
orientar-se no escuro ou andar em linha recta. A posição dos bigodes
interfere, também, na linguagem corporal do animal. Quando está numa
postura defensiva, movem-se para trás, ficando colados à face. Se
relaxado, estão na normal posição, ligeiramente afastados da face. Se
curioso, a sondar o ambiente ou a pedir mimos, dirige os bigodes para a
frente, ficando com um adorável ar de quem está a fazer “boquinhas”.
Quanto mais longos forem os bigodes, mais eficiente será a sua perceção
sensorial. Estes também são renovados e por isso é possível que os
encontre, por vezes, no local onde o gato dorme. Voltarão a crescer.
Um comprimido de paracetamol atinge drasticamente os glóbulos vermelhos e o fígado, levando à morte em poucos dias. Isto porque os gatos não o conseguem metabolizar, por falta de proteínas que o degradem. Não é porque um medicamento é inofensivo para bebés humanos que é também inofensivo para gatos, mesmo que adultos. Analogias entre espécies nunca devem ser feitas, uma vez que são perigosas. Muitos gatos morrem desnecessariamente porque os seus tutores resolvem improvisar e medicar, sem aconselhamento médico. Mesmo com tratamento adequado e intensivo, a intoxicação por paracetamol mata, de forma lenta e dolorosa.
Muito
utilizado como antipirético e analgésico, demora cerca de 45 horas a
ser eliminado pelo metabolismo felino, enquanto que, no ser humano, o
mesmo acontece em cerca de 4 horas. Isto porque os gatos não possuem
concentrações suficientes da enzima necessária para a metabolização da
droga.
Os sinais de intoxicação são: apatia, aumento da frequência
respiratória, febre, anorexia, vómitos, gastrite hemorrágica, lesões
renais, hemorragias, coma e até morte. O ácido acetilsalicílico inibe a
secreção e agregação de plaquetas, causando quadros hemorrágicos
perigosos ou letais.
Automedicação é perigosa e exige conhecimento profissional. O gato possui um metabolismo peculiar, diferente do cão ou do homem. Nunca deve ser considerado um bebé humano, apesar da semelhança de peso, ou um cão de igual porte. Os metabolismos diferem muito e utilizar uma outra espécie como referência, pode ser fatal. Nunca arrisque. Confie ao médico veterinário a escolha do fármaco que o seu animal realmente precisa.
As
piretrinas são inseticidas usados no controlo de parasitas externos dos
cães. São habitualmente vendidos sob a forma de pipetas de aplicação
tópica, coleiras, pós ou champôs e visam a eliminação de pulgas, carraças e mosquitos. O cão possui enzimas próprias para a sua degradação e
é, por isso, capaz de as inactivar, sendo segura a sua utilização. Os
gatos são bastante mais sensíveis a estes produtos, incapazes de os
metabolizar e a sua ingestão, inalação ou contacto com a pele pode ser
desastrosa.
A intoxicação causa sintomas neurológicos e musculares
agudos tais como salivação excessiva, tremores, convulsões, dificuldade
respiratória, diarreia e vómitos, depressão ou hiperexcitabilidade,
febre ou hipotermia e, como derradeiro e último sintoma, a morte
desnecessária e agónica. É muito importante ler atentamente os rótulos
dos produtos antiparasitários que utilizar e NUNCA extrapolar para o
gato aquilo que pode utilizar num cão. Se acontecer a utilização
indevida de tais produtos ou derivados, deverá imediatamente lavar o
gato com água tépida (nunca quente, porque a temperatura aumenta a
absorção pela pele) e sabão. Se acontecer a ingestão, nunca dê leite ou
gorduras, porque estas também aumentam a absorção. Recorra imediatamente
a um veterinário, porque a situação é muito grave e só este possui
meios médicos indispensáveis para aumentar a taxa de sobrevivência de um
gato intoxicado com piretrinas.
O prognóstico é reservado e muitas
vezes ficam sequelas nos que conseguem sobreviver. Se for tutor de cães e
gatos em simultâneo, cuidado com a utilização destes produtos nos
primeiros. O gato poderá tentar higienizar a zona humedecida do pelo do
cão ou pisar acidentalmente algumas gotas do produto que possam ter
caído no chão. Sendo maníaco da limpeza, a sua tentativa de retirar algo
estranho ou de odor desagradável do seu corpo, imaculadamente limpo,
pode levar á ingestão do produto.
Sem
dúvida, quando compra uma coleira para o seu pequeno tigre, esta virá,
muito provavelmente, ornamentada com um guizo. A maioria das pessoas
acaba por o deixar ficar, por achar engraçado ou mesmo por conveniência,
uma vez que se torna mais fácil localizar o seu portador. No entanto,
sob o ponto de vista do gato, estes pequenos e ruidosos objetos são obra
do demónio. Como caçadores, vêm a tarefa dificultada pelo seu soar
indiscreto. Como presas, são mais facilmente localizados pelos seus
predadores. Toda a anatomia do gato o dota da possibilidade de se tornar
quase invisível e silencioso. O guizo inviabiliza esta admirável
capacidade. E transforma-o num animal frustrado e nervoso. Imagine o que
seria ouvir um tilintar irritante e constante, nos seus ouvidos, sempre
que se movimenta!
Se o objetivo é salvar vidas de pequenos pássaros e
roedores, o uso de coleiras com cores garridas e brilhantes pode ajudar,
com a vantagem de não stressar o gato. Em relação á vantagem de o
tilintar servir para o localizar, pode sempre utilizar outros truques,
como por exemplo agitar a caixa da ração para o atrair. E os guizos
podem ser utilizados para fabricar brinquedos caseiros.
Os
gatos são predadores, mas também são presas. Ou seja, não gostam de
ficar expostos, sem controlo do ambiente, uma vez que temem potenciais
inimigos. Adoram explorar, mas sem perderem o domínio da situação, ao
seu próprio ritmo e conforme a sua vontade. Normalmente exploram o seu
território, partindo de um ponto inicial onde se sentem seguros e vão á
descoberta da área envolvente, aos poucos e cautelosamente, regressando
rapidamente ao ponto de partida, se sentirem algum tipo de ameaça. Mesmo
quando fazem explorações mais alargadas, verificam visualmente se
existem esconderijos ou zonas seguras nas redondezas, para ai se
refugiarem, se acharem necessário.
É por esta razão que tantos gatos são
atropelados quando atravessam estradas movimentadas. Considerando que
estão em ambiente hostil, precipitam-se numa fuga cega, para encontrarem
abrigo onde relaxar e voltar a sentir que estão no controle da
situação. Partindo deste principio, é fácil compreender que pode ser
muito arriscado expor um gato a um ambiente desconhecido, preso por uma
trela. Cego de pânico, tentará fugir descontrolado, enrolando-se no fio,
reagindo de forma perigosamente agressiva a qualquer mão que o tente
acalmar. Ambos, animal e tutor, poderão acabar feridos, com maior ou
menor gravidade. Para além da associação, que o gato fará, do tutor com o
incidente e quebrar-se a confiança que nele depositava.
Muito falado em cães, mas também tóxico para gatos. O chocolate contem teobromina, que não é metabolizada no fígado, causando diarreia, vómitos, tremores, descoordenação motora e até morte. Qualquer produto que contenha chocolate, mesmo que em ínfimas quantidades, está completamente proibido na alimentação felina.
Os gatos são confrontados com o ambiente hostil de sala de espera do consultório
veterinário, com sons ameaçadores, odores assustadores e outros animais
igualmente amedrontados, então todos os sinais de alerta da sua condição de
presa disparam e o gato só quer sair dali a qualquer custo, sem olhar a
meios ou medir consequências. Neste momento de absoluto pânico torna-se
prioritário e essencial abandonarem o local, para se refugiarem em
qualquer outro, que considerem mais seguro. Por mais que se instruam os
tutores na primeira consulta do gatinho, continuam a
aparecer gatos ao colo, ou mesmo à trela. Infelizmente alguns tentam fugir do colo dos tutores, depois destes ficarem seriamente
arranhados, outros fogem para nunca mais serem encontrados, outros que podem ser logo em
seguida atropelados, na movimentada estrada em frente.
Portanto, mesmo que o seu pequeno tigre seja a mais calma e doce
criatura alguma vez vista, não arrisque. Não saia com ele sem ser na
transportadora, cuidadosamente verificada, para que não corra o risco de
se abrir. Os gatos são animais que passam subitamente de uma emoção a
outra. Um gato em pânico, tanto pode ficar estático, como no segundo
seguinte atacar e/ou fugir.
O
controle da natalidade e dos cios nas gatas deverá ser feito através da
esterilização cirúrgica. A pílula anticoncecional está
contraindicada, pelos riscos que a sua administração acarreta. A
piómetra é uma doença uterina, em que ocorre uma infecção no interior
deste órgão, infeção esta que não se consegue controlar com a
administração de antibióticos. Só a ovariohisterectomia (remoção de
ovários e útero) a pode resolver definitivamente, mas ainda existe sempre a possibilidade de
septicemia pós-cirúrgica (generalização da infeção). O risco de
desenvolver esta doença é muito maior em animais a quem é administrada
contracepção oral. Além disso, a pílula aumenta o risco dos cancros de mama (cerca de 85% destes na gata são malignos) e de outras patologias mamárias (hiperplasia), assim como predispõe à Diabetes e à obesidade.